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domingo, 29 de maio de 2011

Brasil pré-desenvolvido, pré-cozido, pré-aquecido.

Com certeza você já deve ter consumido algum produto pré-aquecido ou pré-cozido, hoje em dia vão desde de macarrão instantâneo à feijoada. Se você também já consumiu já deve ter percebido que é impossível comer macarrão pré-cozido, pra comer qualquer coisa ela deve estar totalmente preparada.
Pois bem, o que tem isso a ver com o Brasil? Ora, outro dia me deparei com a foto do Cacique Raoni chorando ao saber da liberação da construção da barragem de Belo Monte, pra quem não sabe, a usina de hidrelétrica de Belo Monte tem como objetivo gerar energia para sustentar o desenvolvimento da nossa amada nação pré-desenvolvida. Ela vai ser os três minutinhos que precisamos para acabar de preparar a comida pré-cozida (blerrrrgggg).
Quis usar Belo Monte somente como exemplo, porque se eu fosse listar os absurdos do país pré-desenvolvido sei lá onde ia parar. Quem me conhece e convive comigo, sabe que meu nome é de índio, que não é um apelido, foi me dado orgulhosamente pelo meu pai que admirava os índios, meu pai que me ensinou que os verdadeiros heróis eram o curupira e o boitatá, que são protetores da floresta, não Batman, nem Super-homem que defendem o pior do pior do capitalismo.

Brasil, o país pré-desenvolvido, é isso mesmo! Se eu fosse índio, vindo do Xingu, ficaria abismado com este país, marcha da maconha, um vídeo para ensinar crianças sobre como devem se comportar na intimidade, craque e oxi matando a torto e a direito, ar fétido poluído, gente que se esfrega em qualquer lugar como fazem os bichos da floresta, uns roubando e outros aceitando serem roubados em nome de Deus, etc, etc, etc,. Pois é, eu se fosse um índio que chegasse peladão na cidade ia ficar assustado com tanta falta de pudor do homem “civilizado”. Seria eu um índio Potiguara, guerreiro valente que já travou várias guerras em defesa de seu povo, entenderia eu como qualquer outro índio que o Evangelho é bom, mas que o povo que o professa muitas vezes não o vive, entenderia tudo que o Apóstolo Paulo diz sobre o amor e teria a certeza de não ter minha casta nudez e meu adornos proibidos por ele.
Sim, fosse eu um bravo índio Potiguara ou de qualquer outra etnia, ficaria assustado com um povo que luta pra curtir uma larica enquanto as crianças morrem dentro e fora das aldeias deste país, ficaria com a preocupação pela distribuição de um kit que ensina que uns estão mais certos que os outros. Eu guerreiro dos potiguara, que muitas vezes me isolei na intimidade da floresta, que aprendi a respeitar os mais velhos, a tratar criança como criança, mulher como mulher, homem como homem e animal como animal, todos com respeito e sabendo que cada um é um, ficaria abismado com o país que faz protestos por direitos individuais e que se esqueceu totalmente da coletividade. Eu guerreiro potiguara, nasci e cresci para defender toda uma tribo, ficaria assustado com um país onde se morre em filas de hospitais, sem que ninguém se revolte e se faz marchas a favor do só se beneficia um indivíduo.
Sinceramente, um bravo guerreiro saudável indígena, ficaria assustado em ver um país que quer sediar olimpíadas e copa do mundo enquanto as drogas matam a nação.
É muita falta de pudor, é muita falta de vergonha. Tanta discussão pra liberar isso e aquilo, não existe hoje um projeto de vida para os cidadãos brasileiros, existe um projeto de morte, regada a craque, cachaça, maconha e uma sexualidade que já não fica mais dentro da intimidade das pessoas, sejam elas heterossexuais, homossexuais ou sei lá o que.
Este é país pré-desenvolvido, tá quase prontinho, mas ainda é intragável. É triste, tenho saudade do meu pai, tenho saudade do Brasil, amo esta terra, a gente desta terra, mas é triste que estejamos deixando de ser brasileiros.

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